segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Quinze de setembro de 1989


"Era a minha chance. Consegui acordar na hora certa: minha mãe acabou de sair para comprar pão. Vou e pego a sacola da farmácia e quase corro até o banheiro. Acho que meu coração nunca bateu tão forte. Nossa, a embalagem torna isso tão real... Não sei como o cara da farmácia teve coragem de vender isso para uma menina de 16 anos... Mas bom, se pode vender anticoncepcional, teste de gravidez não é nada, né?
Pronto, coloquei o palitinho na urina, agora é só esperar. Quanto tempo será que demora, hein? Ah, está aqui, um minuto. Faltam 40 segundo ainda. Meu Deus, o que minha mãe vai falar pra mim se der positivo? Há semanas ela me perturba com isso, dizendo que eu estou cheinha demais, perguntando se eu estou grávida... Como pode? Mão sempre sabe das coisas antes mesmo da gente! Pior que ela sempre me falou “filha, toma cuidado. Três anos de namoro não são três dias!”
Tinha razão. Eu trabalho desde os 14 anos, deveria ter comprado o remédio antes de...
Ai! Deus um minuto! Nossa, nunca fiquei com tanto medo de olhar um palitinho antes. Deixa-me ler aqui a embalagem... ok, se tiver duas linhas deu positivo. Não quero olhar... Mas também, se eu enrolar muito minha mãe chega da padaria e só vai piorar tudo. Ela vai querer vir no banheiro comigo de novo, só para garantir que eu não faça o que eu estou fazendo agora!
Ok. No três eu olho! Um... Dois... Três... Ah, é agora ou nunca! Lá vou eu. Peguei o palitinho, agora é só abrir os olhos e ver. Duas linhas, caramba! Opa, barulho no elevador, deve ser minha mãe! Deixa eu jogar isso fora antes que ela ... Droga, não pode ser no lixo aqui em casa! Vou levar e guardar na minha bolsa, quando eu chegar no trabalho eu jogo no lixo de lá mesmo... Meu Deus, o que eu fiz?! Ou melhor: O que eu faço?!
Ah, barulho na porta. Vou deitar e fingir que estou dormindo. Quando for a hora eu decido o que fazer..."

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